Maias: descubra a civilização mais avançada da América Latina


Os maias foram umas das civilizações mais avançadas do mundo. Fizeram importantes descobertas na astronomia, tinham sistemas político e econômico complexos e possuíam um sistema de língua escrita único na América pré-colombiana.

Ilustração de Uxmal por Frederick Catherwood [Public domain], via Wikimedia Commons

História

Origem

Uma das teorias mais aceitas é a de que os maias surgiram com o assentamento de tribos nômades nas planícies do sul do México, sofrendo diversas influências dos Olmecas, que foram uma civilização pré-colombiana.

Descobertas recentes estabeleceram que as primeiras instalações dos maias datam de pelo menos 2600 a.C. Porém, alguns estudiosos discutem os limites entre os maias as outras civilizações mesoamericanas pré-colombianas. Em outras palavras, não se sabe ao certo quando uma civilização começava e outra terminava já que suas arquiteturas e costumes eram bem parecidos.

Período Clássico

Foi o auge da civilização maia, e durou de 250 à 900 d.C. Neste período a extensão da civilização maia ia do sul do México até o norte da Nicarágua. O apogeu também se deu no ambiente artístico e intelectual, tendo um grande desenvolvimento na cerâmica e inscrições em monumentos.

Durante estes anos grandes centros urbanos focados na agricultura surgiram, principalmente nas regiões da planície sul. Esse centros eram cidades-estado, onde um governante detinha o poder absoluto. Porém, eram subordinadas umas às outras, criando um complexo sistema político. Além dessas cidades, outras pequenas concentrações urbanas orbitavam em torno dos grandes centros.

Os maias conviveram ao longo de toda a sua existência com outras civilizações mesoamericanas e construíram diversas rotas comerciais. Essas rotas serviam para uma troca de mercadorias e de cultura por entre as civilizações e é um marco do avanço dos maias.

Nos últimos quinhentos anos do período clássico surge a maioria das pirâmides maias. Grande parte delas eram feitas de pedra calcária originária de pedreiras próximas aos locais de construção. As pirâmides tinha funções religiosas e passaram a ser centrais na cultura maia.

Colapso do período clássico

Os centros urbanos das terras ao sul do domínio maia começaram a entrar em colapso entre os séculos sete e nove. As evidências do esvaziamento das cidades são dadas pela falta de novas inscrições nos monumentos. Existem duas linhas teóricas para explicar a decadência do Império Maia, a ecológica e a não-ecológica.

Segundo a linha não-ecológica, os motivos para o declínio podem ser invasões estrangeiras, superpopulação, revoltas camponesas ou a perda de rotas comerciais importantes.

A linha ecológica sugere que houve um esgotamento dos recursos naturais. Com o aumento da população, ocorreu um esgotamento do solo e da fauna, que era essencial para a caça. Estudos também mostram que um período prolongado de seca pode ter influenciado o declínio da população.

Período pós-clássico

Esse período que vai do século cinco ao século quatorze é caracterizado pelo florescer do Império Maia na parte norte da Península de Iucatã. Pequenos agrupamentos populacionais começaram a se juntar em diversas cidades-estado concorrentes.

Com isso, o militarismo começa a ser cada vez mais importante para a cultura maia. O lugar de destaque que antes era do sacerdócio passa a ser dividido com militares. Algumas cidades fortificadas são indícios de que este período era de instabilidade política.

A conquista espanhola

A conquista da Península de Iucatã demorou mais de 150 anos e teve o esforço de milhares de soldados espanhóis. Os maias eram resistentes ao domínio espanhol e tinham uma cultura bélica desenvolvida.

Eles não possuíam um governo centralizado que pudesse ser derrubado. Por isso os espanhóis eram obrigados a travar diversas batalhas para conquistar pequenos centros de poder até subjugar os maias. A motivação para os conquistadores era a perspectiva de angariar grande quantidade de ouro e prata.

Mesmo depois do domínio espanhol a cultura maia e seu povo persistiu, existindo até hoje colônias maias no interior do México que ainda seguem as tradições milenares do seu povo.

Economia, política e sociedade

A principal atividade econômica dos maias era a agricultura. Sua principal fonte alimentar era o milho, e também cultivavam cacau, algodão, tomate, batata e frutas. As plantações possuíam um sistema de irrigação e eram rotativas, com os lugares de plantio sendo trocados para não esgotar o solo.

Não havia abundância de alimento, a população era elevada e o terreno pouco fértil. Os maias desenvolveram diversas técnicas para aproveitar o solo, como drenar pântanos e plantações em terraços. Mesmo com essas precauções, o solo se esgotava em três anos e o agricultores eram obrigados a procurar outras áreas para o plantio.

Sistema de plantio por terraço

As trocas comerciais também eram atividades importantes e se desenvolviam ao longo de diversas rotas criadas pelos maias. A moeda corrente era a semente de cacau, além de pequenas peças de bronze que eram usadas para criar adornos.

Os maias se organizavam em cidades-estado que se articulavam entre si. Cada cidade era governada por um chefe político chamado de halach vinic e tinha uma estrutura teocrática hereditária. Isso significa que o chefe político e seus descendentes eram considerados representantes dos deuses.

Os halach vinic eram guerreiros assim como a elite que os circundava. A elite política também era composta pelo sacerdócio, que tinha o conhecimento espiritual e tecnológico, e pelos coletores de impostos, que detinham as tarefas burocráticas na cidade e eram de origem nobre. Abaixo vinham os guerreiros e artesões. Por último, os agricultores e trabalhadores braçais.

Cultura e tecnologia

Os maias foram responsáveis por diversos avanços tecnológicos nas culturas mesoamericanas. Na matemática eles possuíam a noção do zero e faziam somas de milhões. O conhecimento matemático auxiliava no entendimento dos eventos astronômicos.

A civilização maia mapeou o movimento do sol e a lua com extrema precisão. Essas observações e o conhecimento matemático possibilitaram a criação do calendário maia.

A língua escrita também era bem desenvolvida. Era composta por ideogramas e símbolos fonéticos e podia representar completamente a língua falada. A maioria dos registros se encontram inscritos em pedras. Os maias produziram livros, mas a maior parte foi queimada pelos sacerdotes espanhóis.

Restaram apenas três códices maias. A tradução dos escritos maias teve grande avanço nas décadas de 1960 e 1970 e, agora, quase todos os escritos podem ser traduzidos ou lidos no original.

Religião

Sobre os dogmas religiosos dos maias sabe-se que eles acreditavam em uma contagem cíclica do tempo. Era papel dos sacerdotes interpretar os ciclos astronômicos e fazer previsões do futuro e antevisões do passado, usando os diversos calendários e a posição dos astros.

Com base nesses ciclos, eram definidos períodos de purificação, que passavam por jejuns e abstenção sexual. Os sacrifícios de humanos ou animais eram uma forma de tentar estabelecer conexão com os deuses. Geralmente os sacrifícios eram de pequenos animais. A oferenda de humanos só acontecia em situações especiais, como períodos muito longos de secas ou a morte do chefe da cidade.

Não havia templos para adoração de deuses específicos, como no caso dos gregos. A adoração variava conforme o tempo e a necessidade.

Mitologia

O deus principal do panteão maia é Hunab Ku, boca e olhos do sol. Ele tinha como mulher Ixazalouh, a criadora das ondas. Assim como na mitologia asteca, o sol teve um filho chamado Itzamna, um herói da civilização, que inventou a escrita. Ele também trazia os mortos de volta para a vida. Muitos sacrifícios eram oferecidos para este deus que, em troca, trazia de volta a fertilidade dos solos.

Outro deus importante era Cukulca, o pássaro-cobra. Segundo a mitologia, ele veio do oeste para a Península de Iucatã com 90 companheiros, sendo dois deles deuses da pesca, outros dois deuses da agricultura e um deus do trovão. Eles passaram dez anos em Iucatã, criaram sábias leis e depois partiram de barco em direção ao sol nascente.

Popol Vuh

Popol Vuh é um livro sagrado maia que narra o nascimento do mundo. O códice foi escrito em língua indígena por nativos cristianizados. É possível observar diversas influências do cristianismo neste livro, que permaneceu oculto até 1701, quando foi traduzido por um sacerdote espanhol.

Segundo o Popol Vuh, no começo tudo era escuro e silêncio, só existiam o céu e o mar. Até que Tepeu e Gucumatz criaram as árvores, os animais e os homens. Os deuses queriam alguém para louvá-los, então primeiro criaram os homens de barros. Mas eles não se multiplicavam nem podiam andar, então os deuses desmancharam os homens.

Depois os deuses fizeram os homens de madeira, porém eles também não se multiplicavam e não louvavam seus progenitores e foram desfeitos. Os animais então levaram milho aos deuses, e do milho foi feito o homem.

O livro narra a epopeia dos deuses gêmeos Hunahpú e Ixbalanqué. Estes deuses venceram os senhores do Xibalbá, o submundo maia, em seu próprio jogo. Assim se tornaram o sol e a lua.

As pirâmides maias

Ao contrário das pirâmides egípcias, que tinham função funerária, as pirâmides maias serviam para o exercício do sacerdócio.

Suas construções são impressionantes, levando em conta que os maias não tinham o conhecimento de rodas e de polias, essenciais para as construções modernas. A maioria das pirâmides eram feitas de pedra calcária oriundas de pedreiras perto do local de construção.

A pedra calcária é maleável logo após a sua extração e, depois, passa a secar e se torna mais dura. Isso explica como os maias conseguiram fazer diversas inscrições mesmo sem ajuda de ferramentas feitas de metal. No começo também era usada uma argamassa para unir os blocos de pedra. Quando as construções começaram a se tornar mais precisas, a argamassa era usada apenas para dar acabamento nas pirâmides.

Calendário Maia

O calendário Maia não é apenas um calendário, mas um conjunto de calendários e almanaques, que são registros que reúnem as datas dos principais eventos astronômicos.

A combinação desses calendários resultam em grandes ciclos, que eram usados como referência para atos religiosos. O calendário Maia tem muitas semelhanças com outros calendários de outras civilizações mesoamericanas.

Houve dois calendários de contagem curtas, o tzolk'in e o Haab'. O tzolk'in contava o ciclo sagrado maia, combinava vinte nomes de dias com treze números de ciclos, que geravam 260 dias únicos. O Haab' era um calendário de ciclo solar, com dezoito meses compostos de vinte dias, mais quatro dias no final do ano que não tinham nome.

A combinação desses dois calendários geravam ciclos de 52 anos sem dias repetidos. Esse período de tempo era suficiente para o registro da maioria dos eventos cotidianos já que a expectativa de vida era menor que cinquenta anos. Porém, não era suficiente para o registro de grandes eventos como guerras

Para o registro de eventos de longo prazo, os maias utilizavam um calendário de contagem longa. Ele é organizado em ciclos temporais que começam em vintenas, que são ciclos de vinte dias. Os dias era chamados de k'in e as vintenas de uinal. Dezoito unials constituem um tun, equivalente a um ano. Vinte tuns constituem um k'atun e quatrocentos k'atuns constituem um b'ak'tun.

Ainda havia quatro ciclos maiores, que eram raramente usados: o piktun, o kalabtun, o k'inchiltun, e o alautun.

A contagem do tempo na calendário Maia não é infinita. No final do ciclo o calendário recomeça do zero. Já no calendário gregoriano ocidental os séculos prosseguem.

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