Uma pessoa sapiossexual é aquela que tende a valorizar mais a inteligência do que aspectos físicos na hora de escolher um novo parceiro.
Apesar de quase não haver estudos científicos sobre essa nova "orientação sexual", o termo anda na moda, e já existe até um aplicativo de namoro exclusivo para quem sente atração por pessoas inteligentes.
Significado e origem do termo
A atração pelo intelecto com certeza não é nenhuma novidade. A novidade é o termo, uma junção do prefixo "sapio", que vem do latim sapiens ("sábio"), com o sufixo "sexual". O resultado é uma palavra que designa pessoas que, na hora da paquera, preferem o cérebro ao corpo.
Segundo o jornal americano The Nem York Times, o termo sapiossexual data de 1998 e foi inventado por Darren Stalder, um engenheiro da cidade de Seattle que resolveu cunhar o neologismo para descrever a si mesmo em seu perfil numa comunidade na internet. Hoje já é possível encontrar o termo em alguns dicionários online, como o Dicionário Cambridge.
Mas o termo só veio a se popularizar alguns anos depois, quando a escritora Kayar Silkenvoice criou o domínio sapiosexual.com.
Em novembro de 2014, o site de relacionamentos OkCupid incluiu a opção sapiossexual entre as orientações sexuais possíveis. Cerca de 0,5% dos usuários desse site se definem como sapiossexuais.
Sapiossexualidade: uma identidade, não uma orientação sexual
Debby Herbenick, educadora sexual e professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Indiana, nos EUA, diz que a sapiossexualidade (ou sapiofilia) está mais para uma identidade do que para uma orientação sexual.
Uma identidade, aliás, que pode ser encontrada em pessoas de diferentes orientações sexuais. Independentemente da pessoa ser homo, bi ou hetero, por exemplo, ela pode ser sapiossexual.
No início de 2017, a norte-americana Kristin Tynski, decepcionada com os aplicativos de namoro convencionais, criou o Sapio, um app especializado em unir pessoas de acordo com a inteligência.
Para que isso dê certo, a pessoa que começa a usar o serviço deve responder a uma certa quantidade de perguntas. Suas respostas farão com que ela seja direcionada a pessoas específicas.
De acordo com Tynski, o app não divide as pessoas entre as supostamente mais ou menos inteligentes. Não é objetivo do serviço avaliar QIs. Ele apenas une pessoas a partir de gostos, interesses, objetivos de vida, visões de mundo, modos de pensar... Afinal, um sapiossexual tende a considerar esses aspectos os mais importantes na hora de buscar um parceiro.
O fato é que aos poucos o termo vai sendo cada vez mais conhecido, e mais pessoas se dizem identificadas com essa "orientação". Há inclusive um teste no Buzzfeed que promete dizer se você faz parte ou não desse grupo.
Sapiossexuais famosos
Em agosto de 2019, o assunto bombou na imprensa europeia quando a ministra da igualdade francesa, Marlène Schiappa, afirmou que se considera uma pessoa sapiossexual.
De acordo com a biografia da atriz Shelley Winters, que dividiu um apartamento com Marilyn Monroe no final dos anos 40, a musa de Hollywood teria incluído o nome do astrofísico Albert Einstein na lista de homens pelos quais ela se sentia atraída. O motivo da atração? A inteligência.
Há muitas histórias sobre a vida de Marilyn Monroe, e às vezes é difícil separar o que é verdade do que é lenda. Dizem que ela teria se encontrado uma vez com Einstein e feito a seguinte proposta: "Deveríamos ter um filho juntos para que tivesse meu físico e a sua inteligência".
O que dizem os cientistas?
Não é de hoje que a inteligência é um fator de atração
Uma coisa é consenso entre especialistas que opinam sobre essa nova identidade: embora o nome seja novo, a predisposição a gostar de outra pessoa pela inteligência não é nenhuma novidade.
É o que diz Lora Adair, professora de psicologia evolutiva do Lyon College, na França. Ela afirmou à revista Vice que a inteligência sempre foi levada em consideração no momento de se escolherem parceiros a longo prazo. Segundo ela, não é de hoje que a capacidade intelectual é um dos atributos mais desejados em futuros parceiros. E isso independe da orientação sexual.
O que explicaria esse boom da sapiossexualidade seria, de acordo com Adair, uma certa incorporação de aspectos da chamada "cultura nerd" pelo grande público. E isso se dá pelo consumo de produtos culturais como filmes, séries de TV, romances ou histórias em quadrinhos.
Estamos acostumados a pensar que vivemos numa sociedade em que a imagem parece ser a coisa mais importante. No que diz respeito ao flerte, tendemos a achar que a aparência é o elemento central. O crescente número de sapiossexuais vem desmentir ou ao menos relativizar essa suposição.
Muitas pessoas são atraídas pelo intelecto
O primeiro estudo científico realizado sobre o tema concluiu que entre 1 e 8% dos jovens (pessoas entre 18 e 35 anos) podem ser sapiossexuais. Essa investigação foi conduzida pelos pesquisadores Gilles Gignac, Joey Darbyshire e Michelle Ooi, da Escola de Ciências Psicológicas da Universidade da Austrália Ocidental.
Eles aplicaram um questionário a um grupo de 383 adultos com perguntas sobre sexualidade e inteligência. A ideia era fazer uma avaliação psicométrica da sapiosexualidade. Em outras palavras: fazer uso de métodos científicos para analisar o comportamento sexual das pessoas envolvidas.
E o resultado mostrou que não apenas a sapiossexualidade pode ser medida como um número considerável de pessoas leva bastante a sério o QI do futuro parceiro.
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Mas de que tipo de inteligência estamos falando?
Falar de beleza é complicado, já que as pessoas tendem a discordar sobre o que é bonito ou feio. Apesar de existirem os tais padrões de beleza, tão difundidos nas passarelas de moda e nos comerciais da televisão, não há dúvida de que a beleza é algo bastante subjetivo.
Talvez o mesmo se possa afirmar em relação à inteligência. Ou melhor: quando se trata de inteligência, talvez o mais correto seja dizer: depende.
Será que a inteligência depende de diploma universitário ou pós-graduação? Será que uma pessoa inteligente é aquela que sabe como poucos lidar com números? Ou o inteligente é aquele que lê romances franceses que pouca gente conhece e sabe de cor o nome dos autores que integraram o Romantismo alemão?
Inteligência e grau de escolarização nem sempre andam juntas. Há pessoas muito inteligentes que nunca pisaram numa universidade. Afinal, a universidade não é a única fonte de saber que existe.
Muita gente critica a "moda sapiossexual" alegando ser esta mais uma forma de discriminação de classe. Para os críticos, a sapiossexualidade seria mais uma forma de elitismo que segrega pessoas de acordo com as oportunidades educacionais.
Além disso, cultura livresca não é o único tipo de inteligência possível. Será tão atrativo o indivíduo que entende como poucos de mecânica quântica mas tem baixa inteligência emocional?
Seria interessante que os próximos estudos sobre essa curiosa identidade sexual levassem em conta outros tipos de inteligência além daquelas mais tradicionais (como a lógico-matemática e a linguística). E aqui estamos falando de tipos de inteligência que não são medidos nos testes de QI - como a emocional, a corporal ou a interpessoal - e que certamente são consideradas por quem pretende iniciar um relacionamento.
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