Anonymous: conheça a história do maior grupo hacktivista do mundo


O Anonymous é o mais famoso grupo "hacktivista" do mundo. Mas sua natureza informal e falta de hierarquia organizacional faz com que essa legião continue sendo um mistério para a mídia e o público em geral.

Quem faz parte do Anonymous? Quais os seus objetivos e como ele surgiu? Veja um pouco da história desse grupo e saiba o que há por trás das máscaras.

Mas primeiro, o que é hacktivismo?

Hacktivismo

Os membros do grupo chamam a si mesmos de "hacktivistas", uma palavra criada pela combinação de hackers e ativistas. Isso significa que eles utilizam seus conhecimentos tecnológicos para realizar ataques hacker, que são feitos seguindo algum propósito ou causa específica.

As várias pessoas por trás do Anonymous em todo o mundo estão unidas pela crença de que corporações e organizações que consideram corruptas devem ser atacadas. Porém, nem todas as atividades do Anonymous envolvem ataques à redes ou sites.

O Anonymous também tem estado ativo em iniciar protestos públicos, apesar de que foi na Internet onde tudo começou, e onde eles tem sua mais força.

O início: A criação do 4chan

4chan
Grupo Anonymous se originou do fórum 4chan

O grupo, que é composto por uma rede internacional de hackers ativistas, tem suas raízes no 4chan, que foi criado em 2003 e é usado por pessoas de todo o mundo.

O 4chan (4chan.org) é um mural de imagens on-line, com conteúdo aparentemente aleatório, e seus visitantes costumam postar anonimamente. Daí surgiu o nome "Anonymous" que é usado por este grupo.

Projeto Chanology - O Anonymous começa suas ações

Protesto contra igreja da Cientologia
Os protestos contra a Cientologia marcaram o inicio do uso das máscaras de Guy Fawkes

A primeira causa do coletivo hacker a ganhar as manchetes foi um projeto de 2008 chamado "Projeto Chanology".

Após a publicação de um vídeo do Tom Cruise falando sobre a Igreja de Cientologia, o culto tentou fazer com que o YouTube removesse o vídeo por causa da "violação de direitos de autor". Mas na verdade, não era interessante para a igreja ter o vídeo no ar, visto que era indiscutivelmente desfavorável à ela.

Em resposta, o Anonymous postou um vídeo no YouTube chamado "Mensagem à Cientologia", iniciando o projeto.

O grupo disse que queria alertar o porquê da Cientologia ser uma organização perigosa e como a tentativa do culto de remover o vídeo de Tom Cruise do YouTube foi uma violação da liberdade de expressão.

Além deste, eles postaram um segundo vídeo chamado “Chamada à ação”, pedindo protestos em frente às igrejas de Cientologia em todo o mundo, além de fazerem um ataque DDoS no site do culto. Este tipo de ataque ainda é o mais comumente realizado pelo grupo.

Entre as marchas e os vídeos que o grupo postou, eles conseguiram estabelecer seu poder e resolução neste primeiro projeto.

Foi nesses protestos contra a Cientologia que os manifestantes começaram a usar as máscaras de Guy Fawkes, inspirados pelo popular filme V de Vingança. O seu uso foi uma medida para proteger a identidade dos manifestantes, que acabou associando à máscara a todo o grupo Anonymous.

Projeto Skynet e Operação Didgeridie: Começam os ataques contra Governos

Em junho de 2009, o presidente Mahmoud Ahmadinejad foi eleito no Irã, iniciando uma série de protestos em todo o país. Nesse espírito, foi formado o Anonymous Irã, um projeto on-line entre o Anonymous e o The Pirate Bay, um site de busca de torrent.

O Anonymous Irã ofereceu aos iranianos um fórum para se comunicar com o mundo, que foi mantido em segurança, enquanto o governo iraniano reprimia quaisquer notícias on-line sobre os protestos.

O projeto Skynet foi lançado pelo Anonymous no mesmo mês, para combater a censura na Internet em todo o mundo.

E em setembro de 2009 foi iniciado a operação Didgeridie, contra o governo australiano, que estava iniciando seus planos de censura na Internet para bloquear conteúdo malicioso, que incluía pornografia infantil. Porém, acabou envolvendo qualquer site que mostrasse sexo, drogas ou violência.

Em protesto, o Anonymous usou um ataque DDoS derrubando o site do Primeiro-Ministro Kevin Rudd por cerca de uma hora.

Em fevereiro de 2010, o governo australiano foi alvo novamente. Desta vez, o Governo estava para aprovar uma lei que tornaria ilegal a pornografia com ejaculação feminina e mulheres com seios pequenos. A premissa é de que, aparentemente, uma estrela pornô com seios pequenos deveria ser menor de idade.

Em resposta, o Anonymous se envolveu na Operação Titstorm, usando ataques DDoS para derrubar vários sites do governo australiano.

Operação Payback e WikiLeaks: De frente com grandes empresas

Operação Payback
Flyer para a operação Payback com os dizeres "Vocês chamam isso de pirataria, nós chamamos de liberdade"

A operação Payback foi iniciada em setembro de 2010 e foi um grande marco na história do Anonymous.

A MPAA (Associação de Filmes da América) e a RIAA (Associação da Indústria da Gravação da América), contrataram a empresa de software indiana AIPLEX para lançar ataques DDoS ao The Pirate Bay e em outros sites relacionados à compartilhamento de arquivos.

O Anonymous então publicou uma carta dizendo que iria atacar a RIAA, a MPAA e a AIPLEX, como resposta à sua perseguição ao Piratebay. Eles justificaram sua ação dizendo que estavam cansados do interesse corporativo controlando a Internet e silenciando o direito das pessoas de divulgar e compartilhar informações.

A Operação Payback continuou em dezembro, mas desta vez os alvos foram o Mastercard, Visa Paypal, Bank of America e Amazon, em defesa do WikiLeaks.

O WikiLeaks é um site onde denunciantes podem postar informações privilegiadas sobre atividades governamentais corruptas em todo o mundo. Quando o governo dos EUA exigiu que o WikiLeaks parasse de divulgar tais informações, várias empresas que o apoiaram no passado se voltaram contra o site, congelando contas e encerrando seus servidores.

O Anonymous decidiu intervir em nome da causa de Julian Assange e declarou guerra à Visa, MasterCard e PayPal por se recusarem a fazer negócios com o WikiLeaks. Em 8 de dezembro de 2010, os sites da Visa e da MasterCard foram derrubados pelo grupo.

Primavera Árabe e Occupy Wall Street: apoiando protestos pelo mundo

Anonymous em defesa da liberdade de expressão na Primavera Árabe

Em janeiro de 2011, os sites da Bolsa de Valores e do Ministério da Indústria da Tunísia foram derrubados por mais ataques anônimos de DDoS, como uma reação à censura do governo tunisiano.

O governo da Tunísia tentava restringir o acesso à Internet de seus cidadãos, e prendeu muitos blogueiros e ciberativistas que criticavam seu governo.

Ainda neste mês, o governo egípcio tornou-se o próximo alvo. Começaram-se ações com a intenção de remover o presidente egípcio Hosni Mubarak do poder. Uma vez que o governo impediu que seus cidadãos acessassem o Twitter, o Anonymous derrubou sites do governo egípcio com ataques de DDoS.

HBGary Barr: A vingança dos Anonymous

Depois de afirmarem ter se infiltrado no Anonymous, a empresa de segurança tecnológica HBGary Barr e seu CEO Aaron Barr foram atingidos por um dos maiores ataques do grupo de hackers até hoje.

O grupo encerrou o sistema de telefonia da empresa e invadiu seu sistema de dados, divulgando mais de 68 mil e-mails privados. Estes incluíam dados de usuários, informações sobre empresas concorrentes e os planos da HBGary Barr de derrubar o WikiLeaks.

E não parou por aí - o grupo ainda assumiu a conta de Aaron Barr no Twitter e postou seu endereço residencial, juntamente com o seu número de telefone.

Occupy Wall Street

Anonymous no Occupy Wall Street
No cartaz: "Os corruptos nos temem. Os honestos nos apoiam. Os heroicos se nem a nós."

Em meados de julho de 2011, as pessoas da Adbusters, uma revista anti-consumismo, começaram a discutir o que poderia ser feito em resposta à corrupção corporativa em Wall Street.

O movimento Occupy Wall Street foi planejado a partir de lá, organizando protestos em massa em Wall Street a partir de 17 de setembro. O grupo Anonymous expressou apoio ao movimento Occupy Wall Street com uma postagem em vídeo no YouTube.

Milhares de pessoas participaram do protesto, que se espalharam por todo o mundo. As máscaras de Guy Fawkes, podiam ser vistas em muitos manifestantes, dando uma maior visibilidade ao grupo hacktivista.

Anonymous: vilões ou mocinhos?

A partir daí, o grupo Anonymous continuou se ampliando e fazendo ações em todo o mundo, atingindo e coletando informações de grandes nomes como a NASA, Donald Trump e o grupo terrorista ISIS.

Devido ao Anonymous, o "hacktivismo" é agora um fenômeno importante, e este grupo está longe de ser o único em ação. E embora o Anonymous tenha sido inicialmente criticado pela mídia pelos ataques cibernéticos ao governo e empresas, a reputação do grupo mudou recentemente.

O jornal americano Washington Times relata que o grupo agora está sendo elogiado por seu trabalho, particularmente em sua missão de combater os ciberterrorismo. Já o jornal britânico The Sun chegou a chamar o coletivo de "heróis da internet" por seus esforços para retaliar os ataques terroristas ao jornal satírico francês Charlie Hebdo.

E como fazer parte desse grupo?

Como entrar no Anonymous

Segundo o grupo Anonymous, não existem membros, e sim seguidores de uma ideologia. Não existe um formulário onde você possa se inscrever, ou algum chefe.

A partir do momento que a pessoa se identifica com a filosofia do movimento, ela pode praticar suas próprias ações sozinho, ou em conjunto com outras pessoas.

O grupo é formado em sua maioria por especialistas em informática, mas historiadores, designers, jornalistas e até escritores também participam dele, cada um exercendo funções onde tenham melhor aptidão.

Também dentro dos Anonymous, existe uma operação chamada de “OpNewBlood”, ou seja, “sangue novo”. Seu objetivo é atrair mais pessoas para a causa, além de ensinar aos interessados a usarem o chat IRC, sobre segurança e anonimato, uso de VPN (Redes virtuais privadas) e criptografia.

Quando essa operação está em curso, há grande aumento no contato de pessoas nas páginas de redes sociais, oferecendo ajudas diversas.

Mas vale lembrar que não há nome, fama ou dinheiro para se juntar ao Anonymous, pois como o nome diz, tudo é baseado no anonimato. Você deve participar se realmente acredita nos princípios e nas mudanças que esse grupo pretende fazer.

E então, agora que conhece a história do maior grupo hacktivista do mundo, o que acha sobre eles?