Rei Arthur: quem foi e como se tornou essa lenda secular


Rei Arthur é uma figura lendária que governou a Grã-Bretanha entre os séculos V e VI. Surgido na Idade Média, o mito foi ganhando muita popularidade ao longo dos anos. E a julgar pela quantidade de livros e filmes que ainda hoje exploram as histórias do lendário rei bretão, dá para dizer que Arthur está mais vivo do que nunca - apesar de muito provavelmente ele nunca ter existido.

Qual é a história do rei Arthur?

rei arthur
Ilustração de Howard Pyle para o livro A História de Rei Arthur e seus Cavaleiros (1903).

Diz a lenda que Arthur era filho do rei da Grã-Bretanha, Uter Pendragon, e de Ygerne, duquesa de Tintagel. Devido a uma promessa feita ao Mago Merlim, Uter teve que abrir mão de seu filho para Antor, um nobre cavaleiro do reino. Antor e sua esposa passaram a cuidar de Arthur como um filho.

Quando Uter morreu, o trono ficou vazio. Ninguém sabia que Arthur, então com 16 anos, era o príncipe herdeiro. Os nobres reuniram-se para escolher o novo rei, e o sábio Merlim foi consultado. O mago profetizou o seguinte: assim que chegasse o Natal, Deus enviaria um sinal.

Como Arthur se tornou rei e como conseguiu a espada Excalibur

O sinal veio na manhã de Natal. Em frente à igreja surgiu uma pedra com uma espada cravada nela. No punho da espada, havia a seguinte inscrição: "Quem for capaz de tirar a espada será rei". Todos os nobres tentaram - sem sucesso. Então chegou a vez dos adolescentes, e Arthur, para espanto geral, conseguiu desencravar a espada sem nenhuma dificuldade. Em sua lâmina estava escrito: Excalibur.

rei Arthur Excalibur

Em outra versão da lenda, Arthur recebe Excalibur de Nimue, a Dama do Lago. Orientado por Merlim, Arthur se dirigiu ao lago mágico para obter a espada com a qual pudesse enfrentar o Cavaleiro Negro. Só um cavaleiro livre de medo e censura poderia obter a poderosíssima espada. E Arthur conseguiu.

O duelo com o Cavaleiro Negro

Segundo uma das versões da lenda, o duelo contra o Cavaleiro Negro é a primeira aventura de Arthur na condição de rei.

O misterioso Cavaleiro Negro andava aterrorizando os cavaleiros do reino. Todos que ousavam desafiá-lo eram derrotados. Mas o pior não era isso: o Cavaleiro Negro, além de não prestar socorro ao oponente ferido, cometia a descortesia de roubar seu escudo e pendurá-lo numa macieira. Quando Arthur chegou ao castelo do Cavaleiro Negro, havia centenas de escudos pendurados lá.

Na primeira tentativa, Arthur saiu gravemente ferido. Mas depois de conquistar a espada Excalibur das mãos da Dama do Lago, Arthur retornou ao castelo de seu oponente e derrotou-o, provando ser o maior cavaleiro do reino e fazendo valer sua autoridade de rei.

A criação da Ordem dos Cavaleiros da Távola Redonda

No dia em que Arthur se casou com Lady Guinevere, foi criada a Távola Redonda. A Távola era uma mesa circular com capacidade para 50 assentos à qual se reuniam os mais bravos e nobres cavaleiros do reino de Logres (nome do reino de Arthur, correspondente à atual Inglaterra).

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Os Cavaleiros da Távola Redonda têm a visão do Graal. Ilustração do século XV atribuída a Walter Map.

O formato da mesa tem um significado especial. A mesa redonda representa a ideia de que a opinião de todos que se sentam a sua volta é igualmente válida. Assim, Arthur diferenciava-se dos reis anteriores, que se diziam os verdadeiros donos da verdade.

De acordo com uma das versões da lenda, a Ordem dos Cavaleiros da Távola Redonda foi criada pelo Mago Merlim no dia do casamento de Arthur e Guinevere. Nesse dia, os cavaleiros que entraram na ordem juraram serem bons e misericordiosos com os mais fracos, valentes com os fortes e impiedosos com os maus. Um dos princípios mais importantes dessa ordem era a defesa dos desprotegidos.

Alguns dos cavaleiros que fizeram parte da Ordem da Távola Redonda foram: Sir Lancelot, Sir Gawain, Sir Parcifal, Sir Mordred e Sir Galahad. Este último era filho de Lancelot e se sentou no assento destinado ao melhor dentre todos os cavaleiros.

Como foi o reinado de Arthur

Diz a lenda que o reinado de Arthur foi marcado pela paz e pela prosperidade. Arthur também ficou conhecido pela façanha de conseguir expandir seus domínios para além daquilo que herdou de seu pai, Uter Pendragon. Ou seja: Arthur foi um rei super bem-sucedido.

Uma das maiores façanhas de Arthur - e são muitas - é o fato dele liderar a resistência bretã contra o avanço dos saxões no início do século VI. De acordo com uma das versões do mito, o bravo líder bretão, à frente de seus leais cavaleiros, teria vencido nada menos do que 12 batalhas contra os saxões. Só dois séculos depois os invasores conseguiram dominar a região.

Mas enquanto Arthur esteve no trono isso não aconteceu. Ao menos é o que diz a lenda. Suas vitórias contra os invasores saxões (de origem germânica) fizeram dele um rei de muito prestígio. E todo esse poder permitiu a ele estender seus domínios a outros territórios, como a Islândia, a antiga Gália, a Noruega e a Irlanda.

O rei Arthur e a busca do Santo Graal

galahad santo graal
Sir Galahad, a Busca pelo Santo Graal, de Arthur Hughes (1870).

Um dos trechos mais famosos da história de Arthur é a busca pelo Santo Graal - o cálice usado por Jesus Cristo durante a Última Ceia. Segundo a lenda, o personagem bíblico José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, teria não apenas guardado o cálice como coletado parte do sangue que fluía do corpo de Jesus durante o suplício.

Na posse do Graal, José de Arimateia teria evangelizado várias regiões da Europa, tendo inclusive fundado a primeira igreja na Grã-Bretanha, a Glastonbury Tor. Acreditava-se que o Graal poderia atribuir poderes mágicos ao seu possuidor, e por isso, antes de morrer, José de Arimateia deixou o cálice sob a proteção de guardiães. Um deles teria levado cálice para a Inglaterra, onde desapareceu.

Mais de cinco séculos depois, Arthur e seus cavaleiros, após uma visão sagrada na vigília de Pentecostes, decidiram sair em busca do cálice de Cristo. Dos 12 cavaleiros que partiram na aventura do Graal, apenas Galahad (ou Galaaz), o mais puro de todos, conseguiu encontrá-lo. Segundo uma das versões, ao avistá-lo o cavaleiro compreendeu os mistérios divinos e ascendeu aos céus.

Como morreu o rei Arthur

O responsável pela morte do rei Arthur é seu filho ilegítimo, Mordred, que conspirou contra o pai para lhe tirar o trono. O embate entre os dois se deu na Batalha de Camlann, onde os dois se feriram mortalmente. Mordred morreu na hora. Já Arthur foi levado à ilha mítica de Avalon. Há quem acredite que Arthur não morreu e ainda está em Avalon. Será?

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A Batalha entre Rei Arthur e Sir Mordred, de William Hatherell (século XIX).

Como surgiu a lenda do rei Arthur?

A lenda do bravo rei bretão surgiu na literatura. Assim, dá para dizer que Arthur e todos os personagens relacionados às chamadas lendas arturianas, como o Mago Merlim, Guinevere e Lancelot, são criações literárias.

A primeira referência a Arthur é feita no livro História dos Bretões, publicado no ano de 830. Escrito pelo monge Nênio sob encomenda do rei de Gwynedd (no atual País de Gales), esse livro faz um resumo da história dos bretões e apresenta Arthur como um valente guerreiro, não como um rei.

Mas o primeiro relato mais extenso e detalhado sobre Arthur data do século XII. Em 1163, o clérigo galês Geoffrey Monmouth escreveu sobre a vida dos primeiros reis bretões e incluiu Arthur na jogada, descrevendo-o como um rei que, para atingir o sucesso, adotava práticas bastante cruéis. Esse traço de caráter menos nobre iria mudar nas futuras representações.

O relato de Monmouth não é levado a sério pelos historiadores de hoje em dia. Alguns fatos atribuídos ao guerreiro Arthur, como a conquista de 30 reinos e a vitória sobre o rei da França, nunca foram comprovados. O mais provável é que Monmouth tenha inventado tudo, ou quase tudo, com o objetivo de criar um passado glorioso para a Grã-Bretanha.

Ao longo do século XII as lendas arturianas ganharam muita popularidade, sendo tema de canções, esculturas, tapeçarias e obras literárias. A passagem da espada na pedra, bem como personagens como os Cavaleiros da Távola Redonda e Guinevere, só foram incorporados à lenda depois.

Será que o rei Arthur existiu?

Até hoje nenhum historiador ou arqueólogo conseguiu provar a existência de Arthur. Segundo Miles Russell, professor de Pré-História e Arqueologia Romana na Universidade de Bournemouth, Arthur não passa de um personagem literário de origem celta.

De acordo com Russell, não há nenhuma evidência histórica que comprove a existência de Arthur. Ele afirma ser muito provável que o primeiro relato mais detalhado sobre Arthur - feito por Geoffrey Monmouth no século XII - tenha sido inspirado em vários homens de carne e osso, talvez cinco, seis, sete...

Para Russell, Arthur é a junção de pelo menos cinco homens diferentes, constituindo um "super-herói celta" cuja lenda foi usada para contar a história da Inglaterra. Um desses homens seria Ambrosius Aurelianus, líder guerreiro que no século V liderou a resistência dos bretões contra os invasores saxões. Talvez Ambrosius seja o mais próximo do que se possa chamar de um "Arthur histórico".

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Referências

MARK, Joshua J. "Rei Arthur". Ancient History Enciclopedia. Disponível em: ancient.eu/King_Arthur/

MIRANDE, Jacqueline. Contos e Lendas dos Cavaleiros da Távola Redonda. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Seguinte, 2014.

MOURA, Fernanda Karovsky. "O Rei Arthur através dos séculos: uma trajetória das lendas arturianas". Revista Entrelaces, V. 1, Nº 10, Jul.-Dez. 2017.

PYLE, Howard. Rei Arthur e Os Cavaleiros da Távola Redonda. Trad. Vivien Kogut Lessa de Sá. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

SOUZA, Neila Matias de. Modelando a Cavalaria: uma Análise da Demanda do Santo Graal (séc. XIII). Dissertação de Mestrado em História Social na Universidade Federal Fluminense. 2011.

URBANUS, Jason. "Was There A Real King Arthur?". Archaeology. Archaeological Institute of America. 2019.