Síndrome de Estocolmo: quando a vítima se apaixona pelo sequestrador


Síndrome de Estocolmo é um termo geralmente usado para nomear um estado psicológico em que a vítima de uma agressão desenvolve simpatia pelo seu agressor. É o caso do oprimido que se identifica emocionalmente com o opressor. Do abusado que defende seu abusador. Ou do refém que passa a sentir compaixão pelo sequestrador.

A origem do termo é atribuída ao psicólogo e criminólogo sueco Nils Bejerot. Ele o teria usado para designar o conjunto de características psicológicas manifestadas pelos quatro reféns do assalto de Norrmalmstorg, ocorrido no início dos anos 70 em Estocolmo, capital da Suécia.

Apesar de ser bastante conhecida, a Síndrome de Estocolmo não é oficialmente uma doença. Ela não consta nem da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS), nem do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (APA).

Numa das poucas publicações dedicadas ao tema, o pesquisador espanhol Andrés Montero Gómez, da Universidade Internacional de La Rioja, chama a atenção para a carência de modelos explicativos e descritivos que permitam um melhor entendimento do fenômeno.

Além disso, há a dificuldade de observação clínica da síndrome, já que na totalidade dos casos os reféns de um sequestro recebem tratamento depois de serem liberados, sendo geralmente diagnosticados com transtorno do estresse pós-traumático.

Mas a Síndrome de Estocolmo não ocorre somente em casos de sequestros. Ela também pode ocorrer nos chamados relacionamentos abusivos, caracterizados pela chantagem emocional, por demonstrações de poder e, nos casos mais graves, pela violência física.

Gómez cita um importante estudo realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Cincinnati, nos EUA, sobre mulheres jovens vítimas de abuso por parte de seus companheiros. Para esses pesquisadores, seriam indicadores dessa síndrome:

  • negação sistemática por parte da vítima do lado violento do agressor;
  • valorização por parte da vítima do lado positivo do agressor;
  • valorização excessiva por parte da vítima das necessidades do agressor;
  • desprezo da vítima por suas próprias necessidades.

A origem da Síndrome de Estocolmo

Após seis dias de sequestro, espera-se que os reféns desejem o pior para seus sequestradores. Mas não foi bem isso que aconteceu no famoso assalto de Norrmalmstorg, no centro comercial da capital sueca Estocolmo.

Entre os dias 23 e 28 de agosto de 1973, quatro funcionários de um banco foram mantidos reféns dentro de um cofre por dois homens armados. Como se pode imaginar, foram dias de muita tensão. Além das inúmeras privações, os reféns conviveram com a ameaça constante de serem mortos caso a polícia resolvesse entrar.

Síndrome de Estocolmo
Cena do filme Stokholm, baseado no assalto de Norrmalmstorg, ocorrido nos anos 70.

Mesmo assim, algo incomum aconteceu: criaram-se laços afetivos dentro do cativeiro, e os reféns, por mais estranho que isso possa parecer, começaram a manifestar simpatia por seus algozes. Segundo relatos, eles chegaram a jogar baralho para passar o tempo.

Durante o sequestro, a porta-voz dos reféns disse por telefone ao primeiro-ministro sueco que confiava nos sequestradores e que se sentiria segura caso fosse levada dali numa eventual fuga. Ela até hoje troca cartas com um dos sequestradores e diz que ele se tornou seu amigo.

Anos mais tarde, outra refém afirmou em entrevista que jamais desejou que os captores fossem feridos. Um dos assaltantes, enquanto cumpria pena de 10 anos de prisão, chegou a receber a visita de dois reféns na cadeia.

Felizmente, tudo acabou bem: após a polícia lançar bombas de gás lacrimogênio dentro do cofre, os sequestradores se entregaram e nenhum refém se feriu. E até hoje quando se lembra do assalto de Norrmalmstorg é impossível não associá-lo ao nascimento do nome de um estado psicológico tão estranho e paradoxal.

Síndrome de Estocolmo na ficção

Ata me
Cena do filme Ata-me, de Pedro Almodóvar.

Além da relação amorosa improvável entre o sequestrador Denver e a secretária da Casa da Moeda, Mónica Gaztambide, há outros exemplos bem conhecidos de Síndrome de Estocolmo na ficção:

Ata-me!, de Pedro Almodóvar

Neste excelente filme de Pedro Almodóvar, lançado em 1989, encontramos a típica manifestação da Síndrome de Estocolmo. Marina, uma ex-atriz pornô, é sequestrada por Ricky, que tinha acabado de sair de uma instituição psiquiátrica.

No início, Marina faz de tudo para se livrar do cativeiro. Mas aos poucos começa a se apaixonar pelo seu próprio sequestrador.

A Bela e a Fera

Já parou para pensar que a belíssima história de amor entre o príncipe enfeitiçado e a jovem Bela pode ser um exemplo da Síndrome de Estocolmo?

Bela não ficou no palácio da Fera porque quis. Ela só aceitou ficar lá para libertar seu pai. Portanto, ao menos a princípio, Bela era uma refém. E uma refém que aos poucos vai se afeiçoando por seu captor, por mais que a Fera, no fundo, fosse boa gente. Faz sentido para você chamar essa gradual afeição de Bela por seu raptor de Síndrome de Estocolmo?

Stokholm

Este filme de 2018, dirigido por Robert Budreau, é baseado na história real do assalto de Norrmalmstorg, que deu origem ao nome Síndrome de Estocolmo. O enredo do filme, é claro, gira em torno da improvável reação dos reféns, que ao longo do assalto acabam tomando partido pelos seus sequestradores.

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