Tecnicamente, nenhum deles.
O início do século XX foi marcado por uma revolução tecnológica sem precedentes. Entre as novas áreas de desenvolvimento científico, estava a aeronáutica. Diversos inventores estavam em uma corrida contra o tempo para serem os responsáveis pela criação da primeira máquina voadora mais pesada que o ar. O avião é o resultado da combinação do trabalho desses idealizadores.
Mas não se pode negar que o brasileiro Santos Dumont e os irmãos norte-americanos, Wilbur e Orville Wright, são dos pioneiros da aviação que receberam mais notoriedade nesta disputa. E, até hoje, geram controvérsias sobre quem afinal foi o primeiro a ter sucesso na criação de uma máquina voadora mais pesada que o ar.
A corrida contra o tempo
Em 23 de outubro de 1906 em Paris, Santos Dumont realizou o primeiro voo com o 14-bis documentado pela Comissão Oficial do Aeroclube da França. Na presença de uma plateia de cerca de 1.000 pessoas, a aeronave percorreu 60 metros em 7 segundos, a 3 metros de altura e com velocidade de 30 km/h. Este feito lhe rendeu o título de Pai da Aviação e tornou-o célebre no mundo todo.

Entretanto, anteriormente em 17 de Dezembro de 1903, os irmãos Wright haviam realizado em sigilo o primeiro voo com o Flyer I. Na presença de poucas testemunhas, o avião percorreu 37 metros em 12 segundos, a uma velocidade de 10,9 km/h e teve a decolagem auxiliada por um sistema de trilhos.
Foram realizados ainda outros voos que acabaram por danificar a aeronave, a qual não pôde mais ser utilizada. Os inventores informaram à imprensa a sua realização, porém não foram levados à sério, pois até aquele momento ninguém os conhecia.
O encontro somente aconteceu em 1908, quando os irmãos finalmente viajaram à Paris com o objetivo de participar de uma festa aérea promovida pelo Aeroclube da França. Nesta ocasião, o trabalho de Santos Dumont e dos Irmãos Wright finalmente puderam ser comparados.

Enquanto o 14-bis realizava voos em círculos como um balão, o Flyer III possuía um sistema de 3 eixos que permitia a realização de curvas mais controladas, realizando manobras no formato de um oito. Além disso, o Flyer conseguia se manter em pleno voo por horas. Era evidente que o trabalho dos irmãos já vinha de muitos anos.
Esta aparição pública rendeu aos irmãos Wright o reconhecimento de seu trabalho. Posteriormente, o voo de 1903 com o Flyer I passou a ser reconhecido pela Federação Aeronáutica Internacional como o primeiro voo realizado com com uma máquina voadora controlada mais pesada que o ar.
A grande controvérsia
Pelas regras estabelecidas pelo Aeroclube da França, que naquela época era a instituição aeronáutica de maior prestígio do mundo, só seriam consideradas para as competições dos prêmios as invenções de máquinas que:
- pudessem decolar de forma autônoma
- fossem completamente controladas pelo piloto
- cujas demonstrações fossem supervisionadas pela comissão da instituição, o que só poderia acontecer na França.
Levando isto em conta, Santos Dumont foi sim o autor do primeiro voo com uma máquina voadora mais pesada do que o ar de forma autônoma e com a presença da Comissão Avaliadora do Aeroclube da França.
O problema é que alguns historiadores da aeronáutica questionam bastante o fato do 14-bis ser uma máquina efetivamente controlada, com as suas inúmeras alavancas e comandos a aeronave funcionava muito como um balão.
Já no caso dos Irmãos Wright, o Flyer podia ser controlado com mais eficiência, porém não era capaz de levantar voo sozinho. Primeiro foram usados trilhos para impulsionar a aeronave, depois passou-se a utilizar uma torre que lançava um peso de 700 quilos capaz de impulsionar o Flyer, funcionando como uma catapulta.
Deste modo, as duas máquinas apresentavam pontos questionáveis e não completamente dentro das regras estabelecidas pelo Aeroclube da França. De qualquer forma os seus resultados eram inquestionáveis e pioneiros, contribuindo intensamente para o avanço da aeronáutica.
Comparações entre o Flyer e o 14-bis
As duas máquinas tinham pesos e tamanho parecidos, com cerca de 200 quilos, 10 metros de comprimento e 12 metros de envergadura. Porém, enquanto que o 14-bis era pilotado em pé com um sistema de arnês ligado ao corpo, respeitando a origem de balonista de Santos Dumont, o Flyer pilotava-se deitado de bruços sendo controlado por duas alavancas.

Comparando a aerodinâmica, a estrutura de planador do Flyer lhe dava um melhor desempenho em relação ao design baseado no conceito das células de Hargrave do 14-bis, que funcionava como uma pipa.
Mas a principal diferença estava na própria conduta dos seus criadores. Os americanos estavam convencidos de que o melhor a fazer era manter o seu trabalho em segredo, longe dos olhos de seus concorrentes para evitar que suas ideias fossem copiadas, pois tinham um forte interesse comercial na venda do Flyer.

Já o brasileiro era um entusiasta da aviação e divulgava todos os seus feitos. Realizava demonstrações públicas, publicava os seus projetos e desenvolvia outras criações como os dirigíveis e até um helicóptero, que nunca chegou a ser testado. Atitude que ajudou a outros inventores a evoluir em suas próprias pesquisas e aprimorarem o trabalho.
Os outros pioneiros
A criação do avião aconteceu graças aos esforços de diferentes inventores com o sonho de voar. Antes de Dumont e os Irmãos Wright, em 1890, o francês Clément Ader percorreu 50 metros à 20 cm de altura com o seu aeroplano em forma de morcego. Em 1896, o principal rival dos Irmão Wright, Samuel Langley, fez voar um avião a vapor sem tripulação. O alemão Otto Lilienthal desenvolveu diversos planadores entre 1891 e 1896. Em 1909, Louis Blériot atravessou os 36 quilômetros do Canal da Mancha em meia hora.
Todos estes inventores foram responsáveis pela criação da aeronáutica e, cada um a seu modo, deixou um legado indispensável para a aviação dos dias de hoje.
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