Pés de lótus: a história por trás da tradição do pé de chinesa


Imagina ter pés de no máximo 10 centímetros de comprimento? Se usar um sapato apertado já é um sacrifício para nós, imagina ter os dedos quebrados e passar anos com os pés amarrados em um formato triangular?

Muitas mulheres orientais já passaram por isso! A tradição conhecida como pé de chinesa, ou pé-de-lótus, foi uma prática extremamente dolorosa que deformou os pés de milhões de meninas e mulheres chinesas durante séculos.

Do sofrimento à sedução

chinesa

O procedimento começava por volta dos 6 anos de idade. Os dedos eram quebrados e dobrados em direção a sola do pé, criando um formato côncavo triangular.

Os pés eram firmemente amarrados com tiras de tecido para impedir o crescimento e cicatrizar as fraturas naquela posição. Com essa prática os pés ficam bem pequenos, em forma de um botão de flor de lótus.

Ter pés pequenos era visto como um passaporte para um melhor casamento e um melhor modo de vida. Numa visão convencional, isso existia para agradar e seduzir os homens, pois eles foram condicionados a serem atraídos por pés pequenos.

Como tudo começou

Essa prática teve início na China no século X, durante a dinastia Tang.

Reza a lenda que tudo começou quando o imperador Li Yu se apaixonou por uma dançarina de pés bem pequenos, durante uma dança tradicional: a dança de lótus. A partir daí, a tradição virou moda e as mulheres de toda a China queriam ter os pés pequenos para também conquistar o imperador.

As mulheres chinesas passavam grande parte de suas vidas com os pés amarrados a fim de assegurar um bom casamento, em uma vida ociosa dedicada aos padrões de beleza.

Por muito tempo, foram vistas em uma função economicamente improdutiva na sociedade, por conta de seus seus pés enfaixados.

A verdadeira história por trás do pé-de-lótus

pé de lotus

Mas historicamente o fato não era bem assim. A verdade é que esse costume foi muito mal interpretado!

As garotas que ficavam com os pés amarrados não levavam uma vida de beleza ociosa, mas ao contrário. Elas cumpriam um propósito econômico crucial na área da manufatura, especialmente no campo, onde jovens garotas de 6 anos já realizavam muitos trabalhos manuais.

A tradição do pé-de-lótus persistiu por tanto tempo porque tinha uma lógica econômica clara. Ela era uma maneira de garantir que as jovens permanecessem sentadas e trabalhassem em uma tarefa chata e sedentária por muitas horas durante o dia.

Elas faziam produtos como o fio, o pano, as esteiras, os sapatos e as redes de pesca das quais as famílias dependiam da renda. Mesmo que as próprias meninas fossem informadas de que estavam passando por isso para terem um bom casamento.

O fim da tradição

A tradição desapareceu apenas quando o tecido deixou de ser feito manualmente e passou a ser produzido por máquinas em fábricas.

Uma pesquisa foi feita com mais de 1.800 mulheres idosas em vários locais da China rural (onde foi encontrada a última geração a ter os pés amarrados na tradição do pé-de-lótus) para apontar quando e porque a prática começou a diminuir.

Os pesquisadores descobriram que a tradição do pé-de-lótus permaneceu por mais tempo em áreas onde ainda era viável economicamente fazer produtos de forma manual, como tecidos decorados. Já nos locais onde as fábricas se tornaram as principais responsáveis pela produção do tecidos, essa tradição começou a diminuir.

Com os pés amarrados e passando horas por dia sentadas fazendo trabalhos manuais, as meninas chinesas passaram a ter muita dificuldade para caminhar e sofriam com quedas frequentes. Viver assim desde a infância deformava os ossos do quadril e coluna, aumentando também riscos de fraturas do fêmur.

O governo chinês baniu a prática apenas no século XX. Porém, ainda nos dias de hoje é possível encontrar algumas idosas nas zonas rurais da China que exibem seus pés deformados.