Alcorão: quem escreveu e o que prega o livro sagrado do Islã


O Alcorão, cujo significado é “recitação” ou ”recitado”, é o Livro Sagrado ou a Escritura do Islã, religião monoteísta muito difundida no Oriente Médio, parte da Ásia e da África Subsaariana. Além de apresentar conteúdos filosóficos e religiosos para os muçulmanos, ele estabelece códigos sociais, leis e comportamentos que devem ser seguidos pelos fiéis.

O livro é de suma importância histórica, cultural e religiosa e, atualmente, é seguido por aproximadamente 1,3 bilhão de pessoas, o que representa cerca de 25% da população mundial.

Alcorão

Livro Sagrado do Islã: as revelações de Allah para os muçulmanos

As revelações do Alcorão representam para os muçulmanos a palavra de Deus (Allah) e, segundo seu próprio texto, têm a intenção de corrigir os erros trazidos em outros livros sagrados, como a Bíblia. Ali, há também expressivas diretrizes e palavras de alento, assim como advertências, para os seguidores do Islã.

O Alcorão foi escrito no antigo dialeto árabe e os muçulmanos acreditam que se trata de uma compilação de revelações feitas por Allah para o Profeta Maomé (Mohammad) ao longo de vinte e três anos. A cópia completa mais antiga do Alcorão data do século IX, embora exista fragmentos identificados como sendo dos séculos VII e VIII. Vale ressaltar que o texto do livro permaneceu inalterado pelos últimos 1500 anos.

O Livro Sagrado do Islamismo é dividido em 114 capítulos (os surah, em árabe), cada um traz versículos (ayat) individuais. Há capítulos que se resumem a apenas algumas linhas, outros contemplam muitas páginas. As estruturas literárias e gramaticais foram criadas com a intenção de que sejam declamadas com musicalidade, como as poesias.

O Alcorão já foi traduzido para mais de 40 idiomas. Porém, a leitura de traduções não é indicada pelos fiéis, pela possibilidade de conterem ideias equivocadas. Os adeptos do Islã são orientados a recitar trechos em árabe, mesmo que não saibam se comunicar nessa língua.

A memorização do livro é ensinada aos muçulmanos desde a juventude. Por ser considerado um Livro Sagrado, ditado por Allah, a leitura do Alcorão é tratada com muito respeito e devoção. Enquanto ele estiver sendo recitado, ninguém deve falar, comer, beber ou fazer quaisquer outras atividades cotidianas.

Quem escreveu o Alcorão? Conheça um pouco sobre o Profeta Maomé

Maomé
Gravura do século XV traz o Profeta Maomé recitando o Alcorão para seguidores em Meca

Segundo as crenças islâmicas, o Profeta Maomé começou a receber as primeiras revelações de Allah aos 40 anos, em Meca, sua cidade natal. Elas eram trazidas pelo anjo Gabriel (Yibrail) e declamadas por Maomé para o povo.

As revelações eram registradas pelos fiéis em pedaços de pergaminho, ossos de camelos, tabletes de argila e folhas de tamareira. Após a morte de Maomé, no ano de 632, as mensagens começaram a ser compiladas pelo califa Abu Bakr, um dos sucessores do profeta, e deram origem ao que se conhece hoje como Alcorão.

A vida de Maomé e a consolidação do Islã

Muhammad nasceu em 22 de abril de 571, em Meca (Arábia Saudita). Pertencente a uma família pobre, mas de muito respeito, cresceu entre pessoas ativas no comércio e na política de Meca. Aos poucos, o jovem trabalhador ganhou reputação de honesto e confiável entre os comerciantes da cidade.

Quando tinha pouco mais de 20 anos, conheceu Cadija (Kjadihah), uma mulher de família rica e conhecida por sua generosidade, que imediatamente se encantou por aquele jovem. Mesmo sendo 15 anos mais velha que ele, tornou-se sua primeira esposa, com quem teve seis filhos.

No ano de 610, em uma de suas viagens religiosas a locais sagrados no entorno de Meca, Maomé meditava em uma caverna no Monte Jabal aI-Nour quando recebeu a primeira mensagem de Allah através do anjo Gabriel.

Em pouco tempo, o profeta reuniu alguns seguidores, que foram crescendo ao longo dos anos, a princípio sem incomodar muita gente. Porém, suas mensagens - que ganhavam cada vez mais atenção - condenavam o politeísmo, o que fez com que muitos dos líderes tribais de Meca passassem a enxergá-lo como uma ameaça.

Após sofrer perseguição por parte desses líderes, Maomé foi embora de Meca com seus seguidores e se instalou em Medina, uma cidade próxima, mais ao Norte. Essa transferência conhecida como Hégira, é o marco do início do calendário muçulmano (16 de julho de 622). Ali, a comunidade muçulmana se estabeleceu e se expandiu, conquistando cada vez mais popularidade e seguidores.

Foram muitas as batalhas enfrentadas pelos muçulmanos entre os anos de 624 e 628. Mas já em 630, o exército muçulmano marchou de volta para Meca, tomando a cidade, fato que levou boa parte da população a se converter ao Islamismo. Porém, Maomé não viveu muito tempo para acompanhar a consolidação da religião por toda a Arábia Saudita.

Sua morte aconteceu em 8 de junho de 632, quando tinha 62 anos. Até não se sabe muito bem como foram as circunstâncias da sua morte. Mas há correntes que garantem que o profeta do Islã foi morto por envenenamento. Seu corpo está sepultado na cidade de Medina, em uma das primeiras mesquitas erguidas por ele e seus seguidores: a Mesquita do Profeta (al-Masjid an-Nabawi).

O que prega o Alcorão?

Antes de abordar os ensinamentos do Alcorão é importante ressaltar que a interpretação xiita de trechos é radicalmente diferente da interpretação sunita. Enquanto há aqueles que adaptam o texto a pontos de vista mais fundamentalistas, outros, o fazem de maneira moderada, cada um de acordo com suas crenças. Por si só, a natureza dúbia de alguns trechos dos poemas favorece diferentes interpretações.

Fato é que nos países em que a maioria da população é muçulmana, até mesmo a lei costuma ser completamente baseada em preceitos do Alcorão, que de livro religioso passou a ser utilizado também como código jurídico.

Alcorão

No quesito conteúdo, o Alcorão apresenta um conjunto de regras e preceitos éticos e morais, além de virtudes que devem ser praticadas pelo homem. O livro sagrado também aborda temas como vida social, trabalho, casamento e bens materiais.

O Alcorão ensina sobre a omnipresença e misericórdia de Allah, dos anjos e profetas por Ele enviados, além de abordar a importância dos homens se preparem para o dia do Juízo Final.

Outra forte vertente, é instruir os muçulmanos em relação a seus deveres para com a religião, como a obrigatoriedade das orações, jejum, peregrinação e manutenção de rituais.

Os cinco pilares do Islã presentes no Alcorão

A entrada de um muçulmano no paraíso depende da obediência de cinco pilares básicos. Ainda assim, Allah pode rejeitá-los. Até o profeta Maomé dizia não ter certeza se seria admitido no paraíso. Veja quais são esses rituais:

1. O testemunho da fé (shahada)

Quando alguém quer se converter ao Islã, precisa afirmar o seguinte credo: “Não há divindade além de Allah. Maomé é o mensageiro de Allah”. Essa frase (shahada) deve ser repetida diariamente durante as orações e reforça que um muçulmano crê somente em Allah como divindade e crê que Maomé revela Allah.

2. Oração (salat)

Cinco vezes ao dia, o muçulmano deve fazer suas orações obrigatórias (salat), nas quais ele recita trechos do Alcorão. O ritual indica que elas sejam realizadas em horários específicos e de acordo com a posição do sol. Isso pode ser feito em qualquer lugar, desde que o local esteja limpo e que os fiéis fiquem com o corpo posicionado em direção à cidade de Meca.

3. Doação (zakat)

Uma vez por ano, o muçulmano deve fazer uma doação compulsória de suas posses (zakat), equivalente a 2,5% do que exceder 85 gramas de ouro. A intenção é que esse seja um ritual de purificação e crescimento para quem tem condições financeiras. Esse valor deve ser doado a instituições locais, que repassam a quantia para pessoas necessitadas, que são isentas do pagamento.

4. Jejum (sawm)

Durante o mês do Ramadan, o nono mês do calendário islâmico, o muçulmano deve jejuar (sawm)desde o amanhecer até o pôr do sol. Isso inclui privação de comida, bebida, cigarro, sexo e pensamentos negativos. Idosos, doentes, grávidas e crianças estão dispensados desse ritual, mas devem alimentar pessoas pobres durante esse período.

5. Peregrinação a Meca (hajj)

Um muçulmano tem por obrigação fazer a peregrinação à cidade de Meca, na Arábia Saudita, nem que seja uma vez na vida. Isso deve ocorrer de acordo com suas possibilidades financeiras e físicas. Durante o trajeto, há diversos rituais que precisam ser realizados por eles. A peregrinação deve ser feita no décimo segundo mês do calendário islâmico.

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Confira 10 curiosidades sobre o Alcorão

  1. As revelações do Alcorão podem ser divididas em duas partes: as que Maomé recebeu em Meca durante 13 anos e, posteriormente, as que o profeta recebeu em Medina, por 10 anos.
  2. Os muçulmanos creem que o Antigo e o Novo Testamento foram escritos por profetas, como Jesus. Porém, Maomé é considerado o último e maior profeta, logo o Alcorão é soberano em relação aos escritos anteriores.
  3. O Alcorão acredita na vida espiritual. Segundo o livro, além do corpo físico, o ser humano carrega também o espírito, que é imortal.
  4. O Alcorão traz leis e indica punições para vários crimes. A pena sugerida para um ladrão, por exemplo, é que cortem a sua mão.
  5. Não se deve tocar no Alcorão após ter relação sexual e também não é permitido entrar com o livro em banheiros. As mulheres não devem encostar no Alcorão quando estiverem menstruadas.
  6. O Alcorão diz que a poligamia - ter mais de uma esposa - é permitida entre os muçulmanos. Porém, não é obrigatória. O livro indica que o homem deve ser justo e igualitário na maneira como trata todas as suas esposas.
  7. O livro sagrados do Islã proíbe o consumo de carne de porco, com exceção para casos de extrema necessidade.
  8. Segundo o Alcorão, quem chegar ao paraíso usará ouro, pérolas e roupas de seda. E lá encontrará rios de leite, de vinho e de mel.
  9. Na década de 90, o ditador iraquiano Saddam Hussein encomendou um exemplar do Alcorão escrito com seu próprio sangue. O exemplar levou 2 anos para ser concluído. Neste período, foram usados 27 litros de sangue.
  10. Em 2012, a Rússia produziu o maior volume do Alcorão registrado em todo mundo, até então. Ele está exposto na mesquita Kul Sharif, em Cazã, a capital de Tartaristão. O livro tem 1,5 m por 2 m quando fechado. Seu peso é de 800 quilos. Atualmente, milhares de pessoas fazem peregrinações ao local para ver o exemplar.

Veja algumas frases marcantes presentes no Alcorão

Aquele que fizer um bem, quer seja do peso de um átomo, vê-lo-á; e aquele que fizer um mal, quer seja do
peso de um átomo, vê-lo-á.

(99ª Surata, versículos 7 e 8)

Ó meu povo, sede justos na medida e no peso e em nada lesai os outros, e não corrompais a terra.

(11ª Surata, versículo 85)

Eis o Livro que te revelamos, para que os sensatos recordem seus versículos e neles meditem.

(38ª Surata, versículo 29)

Fizemos descer sobre ti o livro, com a verdade, para a instrução de todos os homens. Quem seguir a senda da retidão, fá-lo-á em seu benefício e quem se desencaminhar fá-lo-á em seu prejuízo. Não és responsável por eles.

(39ª Surata, versículo 41)

Deus não muda o destino de um povo até que o povo mude o que tem na alma.

(13ª Surata, versículo 11)