Quando o Titanic naufragou em abril de 1912 ele instantaneamente entrou para a história e o imaginário popular. O filme de James Cameron de 1997 ajudou a alimentar os mitos e tecer histórias sobre a tripulação, os passageiros e os romances que aconteceram dentro da embarcação.
Mas o que é real, o que é mito e o que é ficção nas histórias que envolvem o Titanic?
As fascinantes histórias dos sobreviventes
Estimasse que 2.224 passageiros e tripulantes estavam a bordo do Titanic. Em torno de 1.500 morreram na épica tragédia e cerca de 700 sobreviveram. O site de curadoria de fatos sobre o Titanic, o Titanicfacts, destaca alguns dados dos sobreviventes:
37% – porcentagem de passageiros sobreviventes
24% – porcentagem da tripulação sobrevivente
61% – porcentagem de passageiros da primeira classe sobreviventes
42% – porcentagem de passageiros da segunda classe sobreviventes
24% – porcentagem de passageiros da terceira classe sobreviventes
Os sobreviventes do acidente ajudaram a criar a maior parte das narrativas sobre o que realmente aconteceu na jornada que teve início em Southampton na Inglaterra com destino à Nova York nos Estados Unidos. Alguns deles se destacaram por suas histórias de vida fascinantes e outras um pouco macabras.
A última sobrevivente do Titanic: Millvina Dean
Millvina Dean tinha dois meses quando embarcou no Titanic com os pais que emigravam da Inglaterra para o Kansas, nos Estados Unidos. A última sobrevivente do Titanic faleceu em 2009 com 97 anos de idade.
A família não teria embarcado no navio se não fosse pela transferência de suas passagens para o Titanic. Eles estavam em uma cabine da terceira classe e o pai foi quem sentiu a colisão com o iceberg. Ele conseguiu salvar a esposa e os filhos, mas não sobreviveu. A mãe de Millvina, assim como muitas viúvas que estiveram no Titanic, decidiu voltar para a Inglaterra.
Ao longo de sua vida, Millvina deu diversas entrevistas para canais de televisão de todo o mundo contando sua história.
Uma feminista a bordo: a “inafundável” Molly Brown
A história de Margaret Brown foi a inspiração para a personagem retratada por Kathy Bates no filme de James Cameron. Nascida pobre, ela decidiu se casar por amor. O marido, no entanto, conseguiu fazer uma fortuna e Brown se tornou uma socialite e filantropa de sua época. Ela embarcou no Titanic para visitar um neto doente nos Estados Unidos.
Brown, que ficou conhecida como a “inafundável”, ficou famosa por fazer seu bote salva vidas voltar para a área do naufrágio e procurar por sobreviventes, inclusive, ameaçando jogar o intendente de seu bote ao mar.
Ela aproveitou sua fama de sobrevivente do Titanic para fazer campanhas pelos direitos das mulheres e educação dos mais pobres. Ela também concorreu ao Senado em 1914 sendo interrompida pela eclosão da Primeira Guerra Mundial.
O único japonês no navio: Masabumi Hosono
Dentro da cultura japonesa, a honra é sem dúvida um dos pilares de seu povo. O sobrevivente Masabumi Hosono, único japonês a bordo do Titanic, teve que pagar as consequências quando retornou ao seu país de origem.
Ele contou à época que estava dormindo em sua cabine quando o navio colidiu com o iceberg, e que o cenário que avistou quando foi acordado era de pavor e caos. Como estrangeiro, ele deveria esperar para conseguir um bote salva vidas, mas avistou um dos barcos com dois lugares vazios e aproveitou a oportunidade.
Apesar de achar que deveria ter ficado na embarcação e morrido junto com os outros passageiros, ele queria mais do que tudo rever a esposa e os filhos. Após o desastre, ele perdeu o emprego que tinha no governo e foi ridicularizado pela imprensa por ter escolhido se salvar.
“Iceberg! Em frente!”: Frederick Fleet
O marinheiro britânico Frederick Fleet tinha apenas 25 anos quando esteve a bordo do Titanic. Ele ficou famoso por ser o primeiro a anunciar o iceberg à ponte de comando.
Seu turno havia começado às dez horas da noite com seu companheiro Reginald Lee. Eles tinham recebido ordens de prestarem atenção a possíveis gelos na água, uma tarefa difícil para um noite sem a luz do luar. Às onze e trinta e nove da noite, ele avistou o iceberg e tocou o sino.
Sobrevivente do desastre, Fleet passou por diversos inquéritos quando chegou a terra. Muitos queriam saber se a colisão poderia ter sido evitada. Ele relatou que se os pedidos de binóculos tivessem sido atendidos, o naufrágio poderia sim ter sido evitado. Nunca saberemos ao certo. Em 1964, a esposa de Fleet faleceu e seu cunhado o despejou de casa. Em estado de desespero, o sobrevivente do Titanic tirou sua vida em 1965.
Os irmãos Navratil: Michel e Edmond
Um dos casos que rodou o mundo na época do desastre foi o dos irmãos perdidos Michel e Edmond Navratil. Seus pais tinham se divorciado após a suposta traição de sua mãe, Marcelle Caretto. Ela possuía custódia das crianças, mas estavam com o pai, Michel Navratil, durante o feriado de páscoa.
O pai, acreditando que a ex-mulher não era uma guardiã capaz de tomar conta das crianças, decidiu realocar-se com os filhos nos Estados Unidos e comprou passagens de segunda classe a bordo do Titanic.
No dia do acidente, Michel conseguiu o último bote salva vidas para os meninos, mas não conseguiu se salvar. Quando as crianças chegaram em terra, nenhum deles falava inglês, mas suas histórias e fotos rodaram os jornais de todo o mundo, possibilitando com que a mãe os visse em um periódico francês. Eles se reuniram mais de um mês após o acidente e retornaram à França.
O que é real e o que é ficção no filme Titanic?
Ganhador de 11 Oscars, o filme Titanic, estrelado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, foi um fenômeno de audiência quando foi lançado em 1997. A película dirigida por James Cameron, ajudou a consolidar no imaginário de uma nova geração a fascinante história da tragédia marítima mais famosa do último século. Mas o que é verdade e o que é ficção neste épico filme?
Os músicos continuaram tocando enquanto o navio naufragava
FATO! É espantoso imaginar uma trilha sonora ao vivo para o momento de tantas mortes. Mas sim, isso aconteceu. Os músicos contratados para as noites de gala do Titanic tocaram músicas enquanto o caos corria solto pelo navio na noite do desastre. Uma das razões, foi para tentar acalmar os passageiros que se preparavam para entrar nos botes.
Sobreviventes relataram que o repertório final consistia em valsas e ragtimes. A música católica “Nearer, My God, to Thee” ficou conhecida como a última tocada pela banda e foi utilizada tanto na obra de 1997, quanto no filme de 1958, “Somente Deus por Testemunha”, um dos primeiros a contar a história do naufrágio do Titanic.
O verdadeiro Coração do Oceano
Infelizmente, o exuberante diamante azul que Rose ganha de presente no filme é uma obra de ficção. Contudo, um famoso diamante azul chamado Hope Diamond (diamante da esperança), também conhecido como Le Bijou Roi (a jóia do rei), é bastante semelhante ao criado para o filme. Ele tem a assustadora propriedade de 45.52 quilates e está hoje no Museu Natural de História de Smithsonian, em Washington, nos Estados Unidos. Na crença popular, acreditam que o diamante seja amaldiçoado.
Réplicas do Coração do Oceano foram criadas desde o lançamento do filme. Uma delas consiste em uma jóia de 171 quilates de safira rodeada por 103 diamantes. Céline Dion (cantora que gravou a música “My Heart Will Go On” para o filme de 1997), utilizou esta réplica na cerimônia do Oscar em 1998.
O oficial Murdoch assassinou passageiros durante o naufrágio
Talvez uma das histórias mais injustas contadas no filme foi a do oficial William Murdoch. Ele é retratado aceitando suborno do noivo de Rose, atirando em passageiros descontrolados e tirando a vida com um tiro na cabeça. Apesar de Murdoch ter existido, nada disso aconteceu com ele.
O diretor do filme reuniu relatos de passageiros sobre oficiais atirando para o ar (não em passageiros) e de alguns cometendo suicídio. Mas nada prova que isto tenha acontecido com Murdoch.
Familiares do oficial, habitantes de sua cidade natal e historiadores ficaram revoltados pela forma como Murdoch foi retratado. A Fox (produtora do filme) reconheceu os erros cometidos à imagem dele e emitiu um pedido de desculpas oficial. A produtora também doou 8.500 dólares para o memorial construído para o oficial em sua cidade natal na Escócia.
A verdadeira Rose
A mulher que inspirou a personagem Rose DeWitt Bukater, teve uma história de vida fascinante, apesar de nunca ter entrado no Titanic. O diretor James Cameron tinha visualizado uma personagem de personalidade forte com uma mãe dominadora. Ele tinha lido a biografia de Beatrice Wood, uma rebelde artista que teve casos com pintores famosos do início do século XX, e baseou grande parte da protagonista nela.
Beatrice nasceu em uma família rica da Califórnia e desafiou a mãe para se tornar pintora. Na França, chegou a morar em Giverny, cidade de Monet, mas logo se mudou para Paris. Na capital, ela conheceu o artista Michel Duchamp e o escritor Henri-Pierre Roché. Acredita-se que os três tiveram um triângulo amoroso que serviu de inspiração para o livro de Roché, Jules e Jim.
Ao longo da vida, Beatrice trabalhou no teatro e teve inúmeras relações com artistas de sua época. Ela se tornou uma grande ceramista expondo suas peças nos maiores museus e galerias de arte dos Estados Unidos. O diretor James Cameron convidou Beatrice para a estreia do filme em 1997, mas ela não pôde ir devido a sua saúde. A fascinante artista morreu aos 105 anos de idade em 1998. Quando perguntada sobre o segredo de uma vida longa, ela respondeu: “livros de arte, chocolate e homens jovens”.
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