O Hinduísmo é considerado a religião mais antiga do mundo, tendo parte das suas origens na religião védica da qual o deus Savitar faz parte. Savitr, em sânscrito, nominalmente chamado de Savita, significa “aquele do qual tudo nasce” e é o deus do sol, juntamente com o deus Surya.
Esta dualidade entre Savitar e Surya costuma causar uma certa confusão entre os dois deuses. Principalmente porque após o Período Védico, Savitar deixou de ser mencionado nos textos como uma divindade independente.
Mitologia Védica
O Período Védico recebe este nome pois foi nesta época que os 4 Vedas foram organizados. É impossível precisar uma data, porém sabe-se que correspondeu à Idade do Ferro e também que o sânscrito védico durou até o século VI a.C.. Cada Veda é uma compilação de textos religiosos criados para um determinado propósito, sendo eles:
Rigveda: hinos poéticos para serem recitados durante os sacrifícios.
Yajurveda: hinos em prosa para serem recitados em voz baixa no decorrer dos sacrifícios.
Sâmaveda: cânticos retirados dos versos do Rigveda.
Atharvaveda: foi considerado um Veda somente mais tarde e possui encantamentos para cura.
Os deuses aparecem nos 4 Vedas, mas principalmente nos textos poéticos do Rigveda. Existe uma enorme e variável quantidade de divindades védicas, porém as que são mencionadas mais vezes e apresentam uma maior importância nos textos totalizam 33: Savitar, Indra, Varuna, Agni, Rudra, Mitra, Vayu, Surya, Vishnu, Pusan, Usha, Soma, Asvins, Maruts, Visvadevas, Vasus, Adityas, Vashista, Brihaspathi, Bhaga, Rta, Rhibhus, Paraíso, Terra, Kapinjala, Dadhikravan, Rati, Yama, Manyu, Purusha, Prajanya Sarasvathi e Aditi, a mãe dos deuses.
São 11 do céu, 11 da terra e 11 do ar. Alguns relacionados diretamente com a natureza, outros com a ordem do universo físico e moral e, ainda, alguns ligados a conceitos abstratos, como é o caso de Savitar.
Um deus de ação
No Hinduísmo existem duas formas de deidades baseadas na abstração, ou seja, na subjetividade conceitual. Algumas delas são a própria personificação de algo abstrato, como na situação do desejo. Porém estes são casos raros. A maioria são deuses agentes, portanto que denotam uma ação, como acontece com Savitar. Ele é senhor do que é móvel e está parado, do antes do movimento.
Savitar é uma divindade solar e possui olhos, mãos e cabelos dourados. É considerado o sol antes do amanhecer. Representa a manhã, mas também o sol escondido da noite escura.
É dono de uma carruagem dourada enfeitada com pérolas com um eixo de ouro, a qual é capaz de assumir diferentes formas, assim como o próprio deus possui a habilidade de mudar a aparência conforme a sua vontade. Movimenta-se em todas as direções e viaja por "antigos caminhos sem poeira na região média do ar com duas baías adoráveis brilhantes".
Com sua carruagem, é responsável por fazer chegar a luz em todos os ambientes, iluminando o ar, o céu e a terra. Assim, afugenta toda a angústia e tristeza, chegando nas regiões mais sombrias para iluminá-las. É visto ainda como protetor da saúde e de todos os seres vivos que são prudentes e protegem o mundo dos espíritos.
Savitar também é venerado para transmitir as almas dos mortos para junto de onde moram os considerados justos. É quem concede a imortalidade aos deuses e define a duração da vida no homem.
Os vários sóis
Savitar não é a única deidade solar. Para a religião védica, existiam 7 deuses solares chamados Adityas, filhos de Aditi e Kasyapa. Aditya significa descendente de Aditi. No Rigveda, elas são as divindades do céu. Seres eternos que têm a luz celestial como a sua essência.
São eles: Varuna, Mitra, Aryaman, Bhaga, Daksha, Ansa e Surya ou Savitar, representando o próprio sol. Apesar de haver uma hierarquia de poder entre os Adityas, sendo Varuna o líder, nenhum deles é capaz de influenciar ou quebrar as leis de Savitar, pois ele possui uma grande influência e respeito em relação aos demais seres vivos.
Com o passar do tempo e a evolução da religião para o Hinduísmo, outros deuses foram incluídos no grupo, chegando a um total de 12 Adityas em referência aos 12 meses do ano.
Surya ou não Surya? Eis a questão.
Existe bastante especulação sobre se Savitar e Surya são a mesma divindade ou não. Nos textos do Rigveda, é descrito que Savitar é o sol antes do amanhecer, enquanto que Surya passa a ser o sol desde o amanhecer até o poente. Um dos poemas védicos diz:
Deus Savitr levantou o seu brilho, iluminando o mundo inteiro; Surya brilhantemente encheu o céu, a terra e o ar com seus raios.
Entretanto, nos mesmos textos as duas divindades aparecem muitas vezes em simultâneo. Alguns autores defendem ainda que em alguns hinos, os dois são intercalados por serem, na verdade, o mesmo deus. O fato é que os textos foram escritos por diferentes autores ao longo de vários anos e não há um consenso sobre todos os conteúdos.
As orações a Surya e a Savitar também são muito similares, os dois recebendo pedidos pela saúde e proteção contra pesadelos. Como os outros Adityas, são defensores da lei e capazes de perdoar os pecadores penitentes.
Nos textos, Savitar aparece com um papel importante na criação do universo, diferente de Surya. Há ainda um mantra de adoração direcionado a Savitar com o objetivo de alcançar a iluminação da consciência humana.
Presença na cultura Pop
Apesar de deixar de aparecer na mitologia hindu após o Período Védico, Savitar continua a ser popular na cultura hindu nos dias de hoje.
Ele se tornou conhecido no mundo ocidental, principalmente após um vilão das HQs do Flash da DC Comics ser batizado com o seu nome. Apesar dos dois serem chamados de Savitar, os poderes de velocidade da personagem são diferentes das habilidades da divindade hindu que pode mudar de forma,conceder a imortalidade, influenciar outros seres vivos e levar luz para a escuridão.
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