Origem da vida: como as diferentes mitologias a explicam?


Muito antes da ciência começar a se perguntar sobre a origem da vida humana, as sociedades antigas já falavam sobre ela em seus mitos e lendas.

Os mitos da criação são narrativas simbólicas, que explicam a origem do mundo e do homem. Eles são encontrados em quase todas as culturas, e apesar de hoje pensarmos nesses mitos como histórias fantasiosas, cada comunidade as considerava como um relato sagrado, que transmitia a verdade absoluta.

Esses mitos de criação ao redor do mundo possuem muitas referências em comum, como divindades criadoras, batalhas, metamorfoses ou separação entre dois mundos. E como geralmente eram transmitidas de forma oral, cada uma dessas histórias possuíam muitas versões, que podiam mudar de acordo com o território, ou mesmo pelo interesse dos governantes.

Conheça agora alguns desses mitos e veja como eles explicavam a origem da vida.

Mitologia japonesa: a história de Izanagi e Izanami

Izanagi e Izanami
Izanagi e Izanami tocando o oceano primordial com sua lança

No início, existia apenas um deus, que por se sentir solitário decidiu criar os deuses irmãos Izanagi e Izanami. Esses deuses ficavam em cima de uma ponte flutuante. Curiosos sobre o que havia abaixo deles, os deuses mergulharam uma lança de joias no oceano primordial, e quando a balançaram, uma gota caiu de sua ponta se transformando em uma ilha. Essa ilha era o Japão.

Os dois então desceram para essa ilha e começaram a explorá-la em direções diferentes, criando diversos tipos de plantas em seu caminho. Quando eles se encontraram novamente, decidiram se casar e ter filhos para povoar essa terra.

A primeira de suas filhas era uma garota tão bela que os deuses decidiram que ela não poderia viver no Japão. Então, a colocaram no céu.

Essa deusa, chamada de Amaterasu, se tornou o sol. A segunda filha de Izanagi e Izanami tornou-se a lua, e o terceiro transformou-se no mar.

Segundo o mito, o primeiro imperador do Japão foi filho de Amaterasu, e todos os imperadores seguintes alegaram ser seu descendente.

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Mitologia nórdica: a morte de Ymir e a criação de Midgard

Criação de Midgard
Odin e seus irmãos criando Midgard

Antes da existência da Terra que os homens habitam, chamada de Midgard, havia apenas um grande vazio: Ginungagap. Em seu norte existia uma terra coberta de gelo e neblina, chamada de Niflheim, e ao sul estava Muspelheim, a terra do fogo.

Quando o gelo e a lava desses dois mundos se encontraram em Ginungagap, surgiu o primeiro gigante da mitologia nórdica: Ymir. Junto com ele, naquele momento nasceu uma vaca, de nome Audhumla.

Um dia, enquanto a vaca lambia um bloco de gelo, de dentro dele surgiu um homem. Este era Buri, o primeiro dos deuses. Do gelo também nasceu sua mulher Bestla, e os dois tiveram um filho chamado Borr, que posteriormente gerou os deuses Odin, Vili e Ve.

Odin e seus irmãos começaram a se incomodar com o fato de que existiam mais gigantes do que deuses, e resolveram matar Ymir. Quando o fizeram, sua carne se tornou a terra, seu sangue criou os rios e oceanos, as montanhas vieram de seus ossos e seus cabelos viraram as árvores.

Seu cérebro foi jogado no ar, criando as nuvens, e seu crânio vazio se transformou no céu estrelado. E foi assim que foi criado o mundo dos humanos, Midgard.

Quando Odin e seus irmãos foram andar por essas terras e apreciar sua criação, eles viram que faltava algo. Então, ao avistar dois troncos de árvore caídos, Odin os transformou no primeiro homem e na primeira mulher, chamados de Askr e Embla, e os deu o dom da vida.

Vili, seu irmão, lhes deu sentimento e raciocínio, e Ve os presenteou com o dom da fala, da audição e da visão.

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Mitologia grega: Prometeu e a punição de Zeus

Prometeu e a criação do homem
Prometeu e a criação do homem

No começo havia apenas o vazio e o Caos, e nele morava Nyx, um pássaro de asas negras. Esse pássaro pôs um ovo de ouro, de onde surgiu Eros, o deus do amor. Uma parte da casca subiu e se tornou o céu e a outra se tornou a Terra.

Eros então nomeou o céu de Urano e a Terra de Gaia. Depois, fez eles se apaixonarem.

Urano e Gaia tiveram muitos filhos, tanto deuses quanto monstros. Um deles, chamado Cronos, matou seu pai e tomou o posto como governante, e para que ele não fosse traído também, sempre engolia seus filhos ao nascerem.

Quando seu sexto filho nasceu, sua mãe o escondeu para que ele não tivesse o mesmo destino. Esse filho era Zeus, que quando cresceu conseguiu enganar seu pai e salvar seus irmãos. Assim, Zeus se tornou líder dos Deuses.

Mas ainda não haviam homens e animais na Terra. Então Zeus pediu à seus filhos Prometeu e Epimeteu que fossem à Terra, criassem esses seres e dessem um presente a cada um deles.

Prometeu criou os homens à imagem dos deuses, enquanto Epimeteu trabalhou nos animais. Epimeteu terminou primeiro a sua obra, dando um presente a cada um dos animais, e quando Prometeu terminou sua criação, já não havia presentes para dar ao homem.

Por isso, Prometeu decidiu roubar o fogo dos deuses e dar aos homens. Zeus ficou furioso quando descobriu, e além de castigar seu filho com o sofrimento eterno, resolveu punir também os homens.

Para isso, ele criou uma mulher muito bela chamada Pandora, e a fez esposa de Epimeteu. Zeus deu à Pandora uma caixa que nunca deveria ser aberta, mas movida pela curiosidade, ela o fez.

Quando Pandora abriu a caixa, dela saíram todos os males que assolam a humanidade até hoje, como a dor, a doença e a ganância.

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Mitologia hindu: Brahma e sua criação

Brahma e a criação
Brahma e a criação

A mitologia hindu contém muitos mitos da criação. Um dos mais importantes conta sobre a trindade dos deuses: Brahma, Vishnu e Shiva, os deuses da criação, da conservação e da destruição.

Brahma criou o universo e o mundo, e resolveu povoá-lo com criaturas que fossem geradas de sua própria essência. Seu filho primogênito, Brâmane - o sacerdote, saiu de sua própria boca. Chátria, o guerreiro, foi feito de seu braço direito e de seu braço esquerdo foi criada sua esposa.

Os Vaissias - agricultores e comerciantes - surgiram de suas coxas, e os Sudras, servos e trabalhadores, vieram de seus pés. Assim, além da criação, foi explicada a criação das quatro castas hindus.

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Mitologia egípcia: as lágrimas de Atum e o homem

Geb e Nut
Nut (céu) se erguendo sobre Geb (Terra)

Os antigos egípcios possuíam vários mitos da criação, que mudavam de acordo com o território.

Um desses mitos conta que tudo começou nas águas do oceano Nun, de onde surgiu Atum, um ser sem gênero e que possuía um olho que tudo vê. Ele então criou Shu, deus do ar, e Tefnut, deusa da umidade.

Esses dois deuses foram encarregados de criar ordem a partir do caos. Eles então geraram Geb, a terra, e Nut, o céu. Quando o céu foi levantado acima da terra, a ordem do mundo se formou, porém Shu e Tefnut se perderam na escuridão.

Atum então removeu seu olho e o enviou em busca de seus filhos. Quando eles foram encontrados, Atum chorou de felicidade, e no local onde suas lágrimas atingiram a Terra nasceram os homens.

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Mitologia aborígene australiana

o despertar aborígene
O despertar aborígene

No início dos tempos, todos os espíritos da Terra estava adormecidos. Até mesmo o sol, a luz e as estrelas. Mas um dia, o Grande Pai de todos os espíritos despertou a Mãe Sol, e quando ela abriu os olhos, um raio de luz se espalhou em direção à Terra.

Então, a Mãe Sol foi enviada à Terra para espalhar a semente da vida, chamada de guruwari. Ela andou por todas as direções, fazendo crescer plantas onde passava.

O Sol também adentrou em cavernas escuras nas encostas das montanhas, despertando espíritos e insetos. Sua luz derreteu o gelo, criando rios e riachos.

Então criou peixes, cobras, lagartos, pássaros e outros animais. Depois de criar todas as criaturas, elas os uniu e instruiu que vivessem de forma pacífica. Depois disso, a Mãe Sol retornou ao céu.

No início, os seres viveram em paz, mas logo começaram a sentir inveja um dos outros. Para solucionar esse problema, a Mãe Sol deu a cada criatura o poder de mudar de forma para o que desejassem. Mas ela não ficou satisfeita com o resultado, pois os animais começaram a mesclar suas formas.

Por isso, a Mãe decidiu que ela mesma deveria criar novas formas, então ela deu à luz dois filhos: o deus Estrela da Manhã e a Deusa da Lua. Eles tiveram duas crianças, que foram enviadas à Terra, se tornando nossos ancestrais.

Mitologia dos bosquímanos africanos

Árvore
Um buraco na árvore ligava os dois mundos na mitologia dos bosquímanos

No início, as pessoas e os animais viviam sob a Terra, junto com Kaang, o Senhor de Toda a Vida. Todos viviam de forma pacífica, quando Kaang começou a planejar as maravilhas que ele colocaria na superfície da Terra.

Ele então criou uma árvore gigantesca, com ramos que estendiam por todo o globo, e em sua base, Kaang cavou um buraco que levava até o mundo onde ele vivia com as pessoas e os animais. Quando ele colocou tudo o que desejava na Terra, levou o homem até esse buraco.

Todas as pessoas se reuniram ao pé da árvore, impressionados com esse novo mundo. Kaang começou a ajudar os animais também a sair, de modo que todos estavam indo para a nova Terra.

Kanng então reuniu a todos e os instruiu que vivessem em paz. Ele também deu um aviso, de que eles não poderiam fazer nenhuma fogueira, ou um mal iria se afligir sob eles.

Mas durante a primeira noite, quando o sol se pôs e o mundo ficou escuro, as pessoas ficaram assustadas. Elas estavam com frio, e não conseguiam enxergar como os animais.

Em desespero, os humanos acenderam uma fogueira, desrespeitando o aviso de Kaang. O fogo acabou por assustar os animais, que fugiram para as montanhas, e depois disso, os homens nunca mais conseguiram se comunicar com os bichos.

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