Iara, Sereias, Iemanjá, Afrodite: conheça as rainhas do mar


Poseidon que nos perdoe, mas quando se pensa nas grandes personagens mitológicas que exercem domínio sobre as águas do planeta, são elas que vêm à mente em primeiro lugar. Iemanjá, Iara, Afrodite e as formosas Sereias fazem parte do imaginário de diferentes povos sobre os mistérios dos rios e oceanos.

Sendo normalmente dotadas de grande beleza, são associadas ao amor e à sensualidade tendo a sedução como a principal característica em comum. Mas também representam o perigo das marés e o seu charme foi por muito tempo considerado o responsável por afogamentos e acidentes de barcos sofridos por marinheiros em alto-mar.

Mas cada uma delas tem a sua própria história e forma de agir:

Sereias, as mulheres-peixe

sereia

Presente em diversas culturas sob diferentes nomes, as sereias fazem parte da mitologia universal. A forma mais conhecida é a de origem grega, na qual inicialmente haviam dois seres distintos. As Sereias, metade peixe, metade mulher, e as Sirenas, mulheres-pássaro que atraiam os marinheiros com o seu maravilhoso canto para uma morte certa em meio aos rochedos.

Somente durante a Idade Média é que as duas passaram a ser conhecidas como o mesmo ser com as características físicas das Sereias e as habilidades das Sirenas, sendo adotado assim o nome das primeiras.

As sereias estão presentes nas histórias envolvendo Perséfone. Elas eram suas companheiras antes desta ter sido levada para o Reino de Hades, o mundo dos mortos. Por isso, o canto das sereias também é considerado como um canto fúnebre e de anunciação da morte.

Elas também representam um dos principais perigos na Odisseia de Homero. Durante a longa viagem de Odisseu à Itaca, a sua embarcação atravessou o caminho das sereias. Sua tripulação só conseguiu escapar pois os marinheiros puseram cera de abelha nos ouvidos para impedir que ouvissem ao formoso canto das beldades. Com Odisseu amarrado ao mastro, conseguiram manter o curso e evitar o naufrágio.

Afrodite, a deusa do amor

Afrodite

Mais conhecida como a deusa do amor e da sexualidade, Afrodite também foi reverenciada na Antiguidade por sua forte relação com o mar.

Existem duas versões do nascimento de Afrodite. Em uma delas, diz-se que era filha de Zeus e da titã Dione. Porém a mais conhecida e aceita é a narrada por Hesíodo.

O autor conta que Afrodite surgiu a partir das espumas do mar durante a batalha entre Cronos e Urano pelo domínio da Terra. Em meio à luta, Cronos cortou os órgãos genitais de Urano e os lançou ao mar. Do contato da carne com a água formou-se uma espuma branca e dela, nasceu uma bela mulher, Afrodite.

Devido a esta especial ligação com o mar, a deusa era reverenciada por marinheiros na Grécia Antiga, os quais oravam e pediam-lhe proteção sempre que se lançavam em novas viagens pelas ondas.

Afrodite também é a padroeira de Roma. Em certa ocasião, para impedir que soldados inimigos invadissem a cidade, a deusa usou os seus poderes para bloquear o caminho com águas.

Tudo o que precisa sobre a deusa grega Afrodite.

Iara, a mãe d'água

Iara

Pela mitologia amazônica, Iara era uma talentosa guerreira que, após se afogar no encontro entre os rios Negro e Solimões, foi transformada pelos peixes e o poder da lua cheia em uma espécie de sereia indígena.

Em guarani, Iara escreve-se Y-jara e significa Senhora das Águas, pois Y quer dizer água e jára, senhor ou senhora.

É descrita com os cabelos negros, olhos esverdeados e metade do corpo de mulher e a outra metade de peixe. Dotada de um canto hipnotizante, seduz os homens e os leva para o fundo do rio. Os poucos que conseguem se salvar da morte, acabam transformados em loucos e só podem ser tratados pelos pajés, que são os curandeiros indígenas.

A Iara exerce domínio sobre toda a região dos rios amazônicos e seus afluentes. Pela lenda, é tida ainda como a criadora da pororoca, uma onda gigante que percorre os rios amazônicos com muita violência devido ao encontro do rio com o oceano.

Saiba mais sobre a lendária Iara.

Iemanjá, a senhora do mar

Iemanjá

Um dos principais símbolos do sincretismo religioso do Brasil, a Iemanjá conhecida nos dias de hoje é o resultado de uma grande mistura de culturas. Com origens no povo Egba, na Nigéria, onde é chamada Yemojá, foi inicialmente cultuada como a divindade dos rios, da fertilidade e da maternidade. Em Cuba, onde também é venerada, seu nome significa mãe cujos filhos são peixes (yeye ma ajá).

Conta a lenda que para escapar dos desejos do orixá Orungã, Iemanjá foge em disparada mas durante a corrida cai sobre a terra e, de seus seios rompidos, nascem dois lagos, o sol, a lua e diversos orixás. Por isto é conhecida como Mãe de todos os Orixás e Mãe do Mundo. Os orixás são as divindades africanas capazes de dominar as forças da natureza.

Devido à imigração forçada dos povos africanos, Iemanjá chega ao Brasil e se torna a divindade dos mares. Recebe outros nomes, entre eles Dona Janaína, o qual remete à Iara e a forma guarani do seu nome, Y-jara. Iemanjá também é conhecida como a Afrodite brasileira por ser a protetora dos apaixonados.

Durante as celebrações de Ano Novo, Iemanjá costuma ser reverenciada pelos brasileiros que levam oferendas para o mar e saltam sete ondas, fazendo um pedido à orixá a cada salto dado.

O que elas representam para a sociedade?

No início dos estudos sobre a psicanálise, Carl Gustav Jung criou o conceito de arquétipo. Ele afirma que todas as pessoas estão sujeitas à padrões que se repetem progressivamente e se encontram guardados no inconsciente coletivo, sendo passados de geração em geração. Esses padrões se manifestam através do instinto, dos sentimentos e do comportamento de cada um.

Tendo em conta este conceito, não é a toa que as Rainhas do Mar apresentam características tão semelhantes, pois apesar de terem surgido em diferentes culturas, elas possuem as mesmas características simbólicas femininas.

Cada deusa, nas diferentes mitologias, representa uma faceta distinta da mulher. As divindades relacionadas com a água costumam representar duas características femininas fundamentais para a propagação da vida: a sensualidade e a maternidade. A água é essencial para gerar vida, assim como o ventre da mulher.

Elas também adquiriram características ameaçadoras, pois representam os verdadeiros perigos das correntezas dos mares e dos rios, tão belos, mas também arriscados. Assim como as belas e perigosas Rainhas do Mar.